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Cordel do Fogo Encantado retorna aos palcos no Mimo Festival

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Após a estiagem musical e poética de alguns anos de céu calado, a banda pernambucana Cordel do Fogo Encantado volta a chover acorde e verso nos palcos do país. A retomada de um dos grupos mais celebrados e premiados da história recente da música brasileira acontece dentro da programação do Mimo Festival, que congraça músicas e músicos do mundo na capital paulista, entre os próximos dias 19 e 21 de setembro, com mais de 50 atrações nacionais e internacionais gratuitas.

O show de retorno do Cordel, “Palavras para Colorir o Céu”, será nesta sexta-feira (19), no Vale do Anhangabaú, às 20h. O espetáculo já foi apresentado em casa, na cidade de Olinda, na última sexta-feira (12), marcando o retorno da banda e do Mimo às ruas, igrejas, ladeiras e aplausos de Pernambuco.

“Entendemos como uma grande mística de retorno esses dois shows em locais públicos, nestas duas cidades tão importantes para a banda: Olinda e São Paulo”, diz José Paes de Lira, que celebra este emocionado reencontro com as plateias como o retorno do sonho do coletivo artístico Cordel do Fogo Encantado, que, a despeito dos intervalos, nunca chegou a se desfazer completamente. “É a retomada do diálogo, da relação com o público. O Cordel está aceso.”

Com a mesma força cênica e musical e ainda mais inspirados e experimentados que nunca, Lira (voz e poesia), Clayton Barros (violão), Emerson Calado, Rafa Almeida e Nego Henrique (tambores) estreiam a terceira temporada do Cordel nos palcos, com a mesma formação da estreia, no árido e também muito fértil solo de Arcoverde, cidade situada no Sertão pernambucano, onde o grupo brotou, no final da década de 1990. 

Investido do compromisso de sempre com a poética e a música nordestinas e com o comovido e fecundo encontro entre as duas e as referências e inovações sonoras do mundo, o Cordel volta cheio de novidades: das estéticas às investigações sonoras, dos versos, vontades e esperanças musicais ao uso cênico e sensível da palavra como forma, cor e luz, inspiração e projeção.

Cada vez mais interessados nas reflexões sobre os diálogos entre luz e som, poesia e desenho, forma e conteúdo, Lira e seus parceiros de Cordel subirão de novo aos palcos com a missão de fazer da palavra a célula musical e criativa a partir da qual o organismo inteiro da banda se expressa e movimenta, para celebrar e percorrer os novos caminhos que começam agora. “Usaremos muitas palavras nas projeções, que revelam e confirmam, na verdade, nosso compromisso de sempre com a literatura. Está no nome da banda: Cordel. Por isso assumimos e mergulhamos nessa investigação. Voltamos fazendo esse forte estudo com as palavras, sua forma e materialidade, textura e cor. O nome do show veio daí.”

Para matar as saudades de seus públicos e dos palcos do Mimo, o Cordel anuncia um repertório aclamado, com mais de 20 músicas, entre novidades e grandes  sucessos, como “Stanley”, “Pra Cima Deles” e o hino sertanejo “Chover”. “Vamos trazer músicas desde o primeiro disco, passar por todos eles. Mas o foco agora é uma nova história, uma nova narrativa, que vai servir de fábrica para um futuro disco da banda. A gente sempre usou o palco e a relação com o público para construir novos capítulos. Sempre foi no palco que a gente amadureceu”, avisa Lirinha, que vem se despedindo aos poucos dos diminutivos da estreia para assumir a nova alcunha de Lira, na qual se acomodam com a devida folga os novos caminhos artísticos do poeta e músico inquieto e incansável.

“Muitas vezes, chegamos a levar músicas inacabadas para o palco. E, a partir do encontro com o público, no processo do espetáculo, é que elas vão sendo germinadas e terminadas”, conta. Neste retorno, avisa, a banda chega com duas músicas inéditas e muita vontade de escrever os novos capítulos do Cordel com a ajuda do público. 

E, como nunca foi de andar só, o Cordel confirma a participação da multiartista Maria Flor. “Sempre sentimos necessidade de assegurar vozes femininas ao Cordel. É importante no sentido harmônico, para a interpretação das músicas. Na verdade, é fundamental em todo e qualquer sentido. Virou uma característica da gente, desde 2018. Para ‘Viagem ao Coração do Sol’, chamamos Isadora Mello. ‘Água do Tempo’, fizemos com Gabi da Pele Preta. Dividir os microfones da retomada com Maria Flor é um ótimo presságio”,  celebra Lira. A artista, garante, oferece ao Cordel também uma experimentação do contemporâneo, de outras gerações e expressões cênicas da voz e do corpo.

Nesta nova temporada, Lira garante que a banda manterá pés, planos e acordes fincados nas raízes que sustentam o chão da longa caminhada do grupo. “O Cordel sempre teve e seguirá tendo como característica espetáculos que ocupam a zona fronteiriça entre o teatro, a música e a poesia. Temos um projeto de iluminação, um estudo de luz, que, desde a origem, a gente aprofunda com o mesmo parceiro, que é Jathyles Miranda, praticamente um integrante da banda. Outro foco inegociável são as projeções, aos cuidados de um parceiro também cativo: Gabriel Furtado, que seguirá assegurando novas materialidades ao nosso som.”


Sobre o Cordel do Fogo Encantado

Ninguém esquece, mas não custa lembrar: a trajetória da banda Cordel do Fogo Encantado começou na cidade de Arcoverde, em Pernambuco, no ano de 1997. Dois anos depois, o grupo marcava sua estréia no carnaval de Recife, como uma das atrações do Festival Rec-Beat, um dos maiores eventos do circuito musical independente pernambucano. Com um show cênico, herança do teatro, fonte da origem do grupo, o Cordel do Fogo Encantado tornou-se rapidamente uma das grandes revelações da música brasileira.

Desde a formação, a banda é composta pela voz e poesia de José Paes Lira Paes, que depõem sobre o Nordeste inteiro, suas sonoridades e memórias, a força do violão brasileiro e percussivo de Clayton Barros, combinada com os efeitos eletrônicos referência dos povos originários e do rock de Emerson Calado e o mergulho dos ritmos afro-brasileiro dos ogãs Rafa Almeida e Nego Henrique.

Com produção de Naná Vasconcelos, o Cordel do Fogo Encantado gravou em 2001 seu primeiro CD. Um ano depois, eles voltaram ao estúdio para o registro do segundo álbum, “O Palhaço do Circo sem Futuro”, produzido pela própria banda, com a participação afetiva e efetiva de Buguinha Dub e Ricardo Bolognini (Bolo).

Em outubro de 2005 o Cordel lançou o DVD “MTV Apresenta Cordel do Fogo Encantado”, primeiro registro audiovisual do grupo. “Transfiguração”, terceiro álbum, foi lançado em setembro de 2006, com produção de Carlos Eduardo Miranda e Gustavo Lenza e mixagem de Scotty Hard. O disco mostrou um Cordel do Fogo Encantado mais amadurecido musicalmente e posicionado como um dos grupos mais representativos da cena independente do Brasil.

Após hiato de 12 anos, veio “Viagem ao Coração do Sol”, quarto álbum autoral da banda, independente e com músicas inéditas. Produzido por Fernando Catatau, foi lançado em 2018, na primeira retomada do Cordel, que delimitava a liberdade como território político, poético, musical e inegociável do grupo. 

Entre os prêmios já conquistados pelo grupo, estão: o de banda revelação pela APCA (2001), melhor grupo pelo BR-Rival (2002), prêmio Caras (2002), prêmio TIM (2003), Qualidade Brasil (2003) e o bi-campeonato do Prêmio Hangar (2002 e 2003) e novamente APCA (2006), de melhor compositor, para José Paes de Lira, que agora recomeça a reescrever a história do Cordel com seus companheiros de tantos anos de estrada e música: das ladeiras do Mimo até o céu das palavras.

 
 
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